sábado, 20 de outubro de 2012

Luz no fim do túnel


Luz no Fim do Túnel

Em reportagem publicada na Folha de São Paulo em 28/09/2012, intitulada "Prejuízo bilionário das aéreas faz governo acender a luz amarela", o governo federal se mostra preocupado com o serviço prestado pelas empresas aéreas brasileiras à população e com os preços das tarifas.

É preciso entender que medidas para desonerar o setor são necessárias: não é possível a sobrevivência das empresas aéreas, prestando o serviço com a qualidade desejada pelo governo, num ambiente tão economicamente hostil.

Pode-se citar alguns exemplos de como a sobrevivência das empresas é difícil: iniciando pelo preço do combustível, responsável por cerca de 35% do custo das empresas que, no Brasil, custa bem mais do que em outros países. Faz-se ainda necessário lembrar que mesmo voos internacionais, partindo do Brasil, pagam menos pelo combustível do que os voos nacionais, já que no preço praticado para voos internacionais não incidem alguns impostos. Não seria hora de, ao menos, praticar a mesma política para voos domésticos?

            Um outro ponto que merece ser lembrado são os custos com treinamento de tripulantes. Não se discute que o treinamento é necessário e peça chave para manter os níveis de segurança operacional das operações aéreas. O problema são os custos que se alocam ao redor dos treinamentos. Todo piloto de uma empresa aérea deve, anualmente, passar por um exame de proficiência, realizado num simulador de voo, para que seja verificado que sua capacidade técnica permanence dentro dos níveis técnicos exigidos. Para que, após o exame, a licença do piloto seja renovada por um ano, a ANAC cobra uma taxa. Essa taxa é de cerca de R$ 1.000,00 quando o exame é realizado no Brasil, mas chega a custar cinco vezes mais quando o exame é realizado no exterior. Tal diferença poderia ser justificada pelos custos relacionados ao envio de um Inspetor da ANAC para realizar o exame, mas inspetores são enviados poucas vezes: a maioria dos exames são realizados pelos chamados “Examinadores Credenciados”, ou seja, funcionários das empresas autorizados pela ANAC a realizar exames. Quando um examinador é enviado ao exterior, as empresas custeiam a viagem, mas continuam obrigadas a pagar a taxa para a ANAC. É o equivalente a pagar duas vezes a mesma conta.

            As tarifas aeroportuárias cobradas das empresas a cada pouso ou decolagem, pela INFRAERO, tiveram aumentos significativos nos últimos anos. Isso representa outro duro golpe no bolso das empresas, já que é impraticável repassar estes custos para os consumidores e elas não podem prescindir do uso dos aeroportos operados pelo governo federal.

            Numa indústria que utiliza essencialmente suprimentos importados, a desvalorização do Real em relação ao Dólar também representa aumento de custos para as empresas. Nos últimos meses, essa desvalorização aumentou sobremaneira os custos de peças e serviços de manutenção.

            Analizando apenas os fatores aqui citados, dentre muitos outros existentes, ao invés de “cobrar medidas que devem ser tomadas pelas companhias para eficiência de sua gestão”, é urgente que o governo tome medidas para viabilizar a indústria do transporte aéreo no Brasil, caso contrário, a luz amarela terá que ser apagada para contenção de despesas…

5 comentários:

Spider disse...

Será estratégia das empresas aéreas ou caos total?

Spider disse...

As vezes (quase sempre), o mundo das empresas aéreas não parece ser o mesmo mundo em que órgãos governamentais vivem. As taxas aeroportuárias dispararam e ainda criarão mais taxas. Onde mais de 40% do custo operacional da empresa aérea é de um único fornecedor (QAV), não há business plan ou estratégia que resista para a toda a cadeia. A luz no fim do túnel JÁ foi desligada por contenção de gastos.

Cristina Belderrain disse...

João, diante do cenário que você descreve, seria de se esperar que os serviços oferecidos às empresas aéreas nos aeroportos administrados pelo governo federal fossem bons, pelo menos. Como todos sabem, não é esse o caso. O último episódio de caos aéreo em Viracopos mostrou até que ponto pode chegar a incompetência do governo federal. O aeroporto ficou quase 48 horas interditado porque a Infraero, amparada pela lei brasileira, não possui nenhum exemplar do equipamento utilizado para remover o cargueiro acidentado da pista.

Fora do Brasil, esse tipo de equipamento quase sempre é disponibilizado pela administração do aeroporto. Quando não é, as empresas aéreas assumem juntas a responsabilidade, compartilhando os custos de aquisição e manutenção. Aqui, as empresas são obrigadas a assumir individualmente essa responsabilidade. Nada mais justo, portanto, que tratar o setor com incentivos. O que se verifica, ao contrário, é a aplicação de penalidades arbitrárias que vão acabar inviabilizando o acesso das classes menos favorecidas ao transporte aéreo.

Unknown disse...

Cmte Medau,

Queria aproveitar esse espaço para tirar uma dúvida, vi no perfil do blog o livro Airline Operations and Scheduling.

Queria confirmar se o livro é exatamente esse: http://www.amazon.com/dp/0754679004

Além desses livros, existe alguma outra sugestão sobre o assunto?

Vi esse: http://www.amazon.com/dp/0754672581/ref=pe_160270_26686290_pe_vfe_dt3 e fiquei interessado.


Atenciosamente,
André Collaço

João Carlos Medau disse...

Olá,

Sim, o livro Airline Operation and Scheduling é esse mesmo. Na verdade, eu tenho uma edição anterior a essa que está a venda no Amazon. É um livro bacana, não muito profundo mas com vários modelos matemáticos aplicados à otimização de setores operacionais de empresas aéreas. Para quem gosta de programação linear / programação inteira é interessante para aprender os modelos básicos.

O outro livro eu não conheço.

abcs,

Medau